Religião: Falta de uma política de imigração coerente da UE “contribui para o trabalho escravo e a continuidade das tensões sociais
Estrasburgo (AE) - O papa Francisco pediu ontem que a Europa produza uma política de imigração unificada e justa, afirmando que dezenas de milhares de refugiados chegam à costa a cada ano precisando de aceitação e assistência, não de políticas interesseiras que colocam a vida em risco e abastecem o conflito social. Francisco fez as declarações no Parlamento Europeu durante um breve visita com o objetivo de destacar sua visão para a Europa, 25 anos depois de João Paulo II ter viajado a Estrasburgo para discursar para um continente ainda dividido pela Cortina de Ferro.
APPapa Francisco faz apelo ao Parlamento Europeu e é aplaudido
Recebido com aplausos educados no início de seu discurso e com uma longa ovação no final, Francisco disse que queria levar uma mensagem de esperança aos europeus, desconfiados de suas instituições, castigados pela crise econômica e espiritualmente à deriva numa cultura que, segundo ele, não valoriza mais a dignidade dos seres humanos. “Uma Europa que não se abre mais à dimensão transcendente da vida é uma Europa que se arrisca a, lentamente, perder sua própria alma”, disse ele.
Num discurso que tratou de uma de suas maiores prioridades como papa - a necessidade de cuidar dos idosos, dos pobres e do meio ambiente - Francisco pediu que os legisladores promovam políticas que criem empregos e aceitem os imigrantes. “Não podemos permitir que o (Mar) Mediterrâneo se transforme num vasto cemitério!”, declarou.
O jesuíta argentino costuma falar sobre as dificuldades dos imigrantes que buscam uma vida melhor na Europa. Ele viajou para a pequena ilha de Lampedusa, em 2013, para demonstrar solidariedade com os imigrantes que chegaram e homenagear os que morreram tentando, número que autoridades italianas estimam em mais de 2 mil somente em 2014. A Itália tem ficado com a responsabilidade, e os gastos, de resgatar os imigrantes, embora recentemente agências de fronteiras da União Europeia tenham ajudado.
Francisco advertiu que a falta de uma política de imigração coerente da UE “contribui para o trabalho escravo e a continuidade das tensões sociais”. Ele pediu aos europeus que aprovem uma legislação que assegure que os imigrantes serão aceitos e adotem “políticas justas, corajosas e realistas” em relação a seus países de origem e ajude-os a resolver os conflitos que alimentam a imigração, “em vez de adotar políticas motivadas pelo interesse próprio, que aumentam e alimentam tais conflitos”.
Centenas de pessoas reuniram-se para assistir ao pronunciamento do papa em telões colocados em frente à catedral de Estrasburgo. Dessa vez, o pontífice abriu mão do papamóvel e do contato direto com os fiéis, e dedicou a viagem de apenas quatro horas de duração – a mais curta já realizada ao exterior por um papa – ao Parlamento e ao Conselho Europeu.
A visita também foi marcada por protestos, muitos criticando a decisão do presidente do Parlamento Europeu, Martin Schulz, de convidar um líder religioso para discursar numa instituição laica.
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