No auge da cotação da empresa,
em 21 de maio de 2008 era de R$ 737 bilhões
© Foto: AE
Abalada pelas investigações de corrupção e, mais
recentemente, pela queda da cotação do petróleo, a Petrobrás não para de sofrer
os efeitos no preço de suas ações. Sua cotação afundou tanto que na sexta-feira
passou a valer na Bolsa de Valores o mesmo que no primeiro ano do governo Lula,
como se estivesse paralisada há 11 anos.
A estatal brasileira vale hoje menos do que antes do
anúncio das descobertas do pré-sal. Para os investidores do mercado financeiro,
é como se as reservas gigantes de petróleo, anunciadas em novembro de 2007,
tivessem perdido todo o valor.
No auge da cotação da empresa, em 21 de maio de 2008,
seu valor a preços de hoje, já considerando a inflação, era de R$ 737 bilhões.
De lá para cá, queimou-se no mercado R$ 610 bilhões. Para se ter uma ideia da
dinheirama, é como se a companhia tivesse perdido toda a produção anual de
Portugal. Ou quatro vezes o Produto Interno Bruto (PIB) do Uruguai.
Toda essa perda não se deve apenas ao inferno astral
do momento. As perdas começaram logo em 2008, por causa da crise financeira
global. No ano passado, a Petrobrás teve outra grande perda porque não pôde
reajustar os preços da gasolina para não pressionar a inflação. Em 2014, a
cotação estava começando a se recuperar, quando as notícias de corrupção
atingiram a empresa. Foi assim que na sexta-feira a estatal passou a valer R$
127 bilhões.
Os números já ajustados pela inflação foram
compilados pela consultoria Economática, a pedido do Estado. Aplicar a inflação
é importante porque traz o passado para os preços de hoje, como diz o gerente
da consultoria, Einar Rivero. Dá o real poder de compra do dinheiro. “O dólar
hoje está caro ou está barato? Eu digo que está barato porque vale R$ 2,60.
Olhando o dólar de 2002 e aplicando a inflação do período eu teria de ter R$
8,25 de hoje para comprar dólares. Está barato.”
No caso das ações da Petrobrás, não há quem arrisque
dizer se o papel está caro ou barato. São muitas as incertezas em relação à
empresa, que ainda podem jogar os preços mais para baixo. Não se sabe, por
exemplo, o impacto no balanço da companhia quando reconhecer – se reconhecer –
as propinas pagas e denunciadas por ex-diretores. Nem sequer o balanço auditado
do terceiro trimestre foi publicado e, se isso não for feito até 31 de janeiro,
alguns bilhões em dívidas terão de ser pagos antecipadamente.
A empresa ainda enfrenta uma ação movida por
acionistas minoritários que pedem indenizações milionárias na Justiça
americana. Para complicar, os preços do petróleo estão em níveis que, no curto
prazo, ajudam o caixa da companhia, mas se permanecerem por muito tempo na
faixa dos US$ 60 podem inviabilizar investimentos – até mesmo no pré-sal.
Estadão: Josette
Goulart
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