- Tudo começou há 37 anos… Alzineti pegou de um microfone e cantou e
agradou. Desde então, a mulher que embala muitas noites dos melhores
lugares da cidade não parou de cantar. Somente canta e canta e canta.
Mas tudo teve um preço e tem. Hoje, Alzineti empresta sua voz ao Grupo
Musical Tremendões, do qual faz parte desde 2001, quando seu esposo,
Dorian Sérgio, faleceu.
A arte da música sempre foi uma área pela qual a também artesã nas
horas vagas, Alzineti di Oliveira se apaixonou mais. Com uma voz
invejável, e cantando o que de melhor há na MPB. “Mas hoje vejo que os
espaços para quem canta a verdadeira Música Popular Brasileira estão
sumindo, e dando lugar a esses ritmos de ‘sofrência’, entre outros”,
fala, com certo tom de desabafo.
Com uma vivência de vários anos em barzinhos na cidade, ela fala que
já pensou, algumas vezes, em deixar a música, mas o amor, a paixão à
área a faz continuar. “Tenho um CD em fase de conclusão, pelo qual nutro
grande carinho e com o qual me realizei. É um trabalho com várias
músicas importantes e de grandes compositores. Tudo feito com apuro e
com permissão das gravadoras”, diz, explicando que o título do CD Vida
sempre Vida é um tributo à alegria de viver e às pessoas que passaram e
ajudaram sua existência.
Sentada numa das cadeiras da Praça da Convivência, local onde a
reportagem e a própria cantora escolheram para bater um papo sem grandes
pretensões, Alzineti olha o horizonte e se lembra do dia em que o lugar
foi inaugurado. “Fui uma das primeiras cantoras a se apresentar aqui…
Este lugar foi muito importante na vida de algumas pessoas que se
iniciaram, recentemente, na música”, destaca, explicando que o espaço
sofre, hoje, de uma carência de mais apresentações musicais.
Atualmente, Alzineti revela que está complicado se apresentar nos
barzinhos. “Os ritmos mudaram muito e eu me nego a cantar certas coisas…
Acho que o público também não merece isso. Hoje, a Praça da
Convivência, por exemplo, não está tendo um cuidado maior com os
artistas. Assim que começaram, havia mais cuidado da Prefeitura e dos
comerciantes. Hoje, não vejo muito isso. Aliás, de uns três para cá, a
assistência acabou. Cantei em 27 de agosto aqui, uma quinta-feira, do
ano passado. E faltou muito assistência ao nosso grupo”, diz.
Ela é enfática ao dizer que muitos ambientes, no entanto, oferecem
estrutura para os músicos. “No Cândidu’s, por exemplo, temos grande
assistência… O músico precisa disso, até porque são três horas de palco e
cansaço”, diz, se considerando um tanto “decepcionada com a área da
música”. “Sou muito grata às pessoas que gostam do meu trabalho e, por
elas, estou lutando para terminar meu CD. Quero mostrar meu trabalho,
mas que a continuidade disso não é garantida. Lançarei por um extremo
compromisso de honra com meu público. E acabou!”, fala um tanto
indignada.
Para a cantora, esse é um momento de grande reflexão, principalmente
para o pessoal que canta. “É preciso trazer mais qualidade para os
espaços. Cantar por um dinheiro assim não me deixará rica. Se não fiquei
até agora, seria que ficaria com isso?”, diz, sorrindo, não deixando
cair o bom humor…
‘É preciso mais apoio dos poderes públicos’
Falta apoio dos poderes públicos? Alzineti diz que sim. Projetos como
o Corredor Cultural e outras apresentações musicais que existiam, nos
finais de semana, na cidade, principalmente na Avenida Rio Branco,
pararam. “Hoje estou um pouco distante dos palcos, porque tenho uma
pessoa minha, minha mãe, um pouco doente, mas me apresento pelos
Tremendões, onde estou desde 2001”, salienta.
Sobre a vida do músico local, este verdadeiro herói da noite, que
resiste entre pedidos desconcertantes e outros que sequer estão no
repertório, Alzi, como é conhecida entre os amigos mais íntimos, diz que
na noite a concorrência ainda é um tanto desleal. “Não quero usar
outros termos, mas saliento que é preciso mais união de todos os
músicos. Quando, há alguns anos, alguma nova cantora começava, eu mesma
fazia questão de chamá-la ao lugar em que eu iria cantar para lhe dar
uma oportunidade. Era uma forma de ajudar a uma amiga que estava
iniciando a carreira. Fiz muito isso, nestes 37 anos de estrada e não me
arrependo nem digo isso para me envaidecer, em momento algum”, comenta.
O apoio, segundo ela, dos poderes públicos ainda é pouco. “Existe
grande dificuldade em apoiar as iniciativas musicais. Mas a cidade, em
si, apoia e há até um evento, feito quase mensalmente, o Câmara
Cultural, um projeto interessante que tem atraído o público. Se um
projeto como esse continuar, durante o ano todo, o público chega, é
apenas aparecer uma novidade. No entanto, é preciso mais apoio,
patrocínio. Falo nesse sentido, não na questão do povo. O povo vem, o
povo confere, prestigia. A música me deu tudo e não me imagino sem a
música, porém, infelizmente, a gente tem que ter foco em outras coisas.
Mas não vou parar. Vou insistir, terminar meu CD e tirar essa
responsabilidade da minha mente”, destaca.
Com as mãos sobre a mesa e um perfume marcante, a cantora sorri ao
olhar dois ou três amigos que passam e lhe saúdam. Em poucos momentos de
entrevista, a cantora com mais de três décadas de estrada, é um nome e
tanto da música local e uma voz sempre inesquecível para quem sabe que a
música é algo que vai além de um ritmo dançante, algo que faz com que
alma pense, com o que a mente voe… “Já cantei em situações complicadas,
mas nunca me faltou alma para cantar”, finaliza…
Contatos para shows: 84 -8800-7253
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