As frustradas tentativas de deixar a prisão valem ao ex-presidente da
Câmara dos Deputados João Paulo Cunha um papel num filme tragicômico
parodiando ‘Esqueceram de mim’. O PT o ‘esqueceu’ no complexo
penitenciário da Papuda, em Brasília. Saíram das celas felizes os
mensaleiros petistas José Dirceu, Delúbio Soares, José Genoino. Ficou
João Paulo, triste, desolado e petista solitário.
A exemplo do trio petista, os ex-deputados Valdemar Costa Neto (PR),
Bispo Rodrigues (PR) e Pedro Henry (PP) também já cumprem em regime
aberto suas penas. Outros dois, além de João Paulo, pediram progressão
de pena ao STF, ainda sem sucesso. Os ex-deputados Romeu Queiroz (PTB) e
Pedro Corrêa (PP).
Mas João Paulo é o caso mais emblemático. Sem solidariedade dos
colegas e do partido, ‘mofa’ na cela. Está deprimido desde antes da
prisão, contam amigos. E dos estrelados petistas condenados pelo
famigerado mensalão, foi um dos menos problemáticos: um saque de R$ 50
mil e contratos irregulares de publicidade durante a gestão da
presidência da Câmara – ‘fichinha’ perto do esquema no geral. João Paulo
paga, no entanto, pelo conjunto da obra. Quando o ‘Jornal do Brasil’
denunciou o esquema na manchete ‘Planalto paga mesada a deputados’, em
2004, o petista arquivou em poucas horas uma investigação pedida pela
oposição. O mundo caiu quando, abandonado pela quadrilha, o também
culpado Roberto Jefferson (PTB) abriu a boca em entrevista à ‘Folha de
S.Paulo’.
Antes de ser condenado e preso João Paulo ainda se esforçou. No cargo
de deputado, investiu do bolso a confecção de livretos com sua tese de
defesa, distribuiu para autoridades e deputados. Visitou ministros do
Governo na Esplanada na tentativa de que usassem suas amizades com os
amigos do STF para sensibilizá-los. Em vão. Pagou parte de sua multa de
R$ 373.511,12 com sobras da campanha de arrecadação feita pelo PT,
depois que Dirceu, Genoíno e Delúbio se livraram com a vaquinha. Mas só
isso não foi suficiente. Ele continua na cadeia porque a multa total é
de R$ 536.440,55, valor estipulado pela Vara de Execuções Penais do DF.
Faltam por baixo uns R$ 160 mil. Cunha está falido, diz a defesa.
Ninguém mais no PT se mexeu por ele. Nenhuma campanha nas redes sociais,
tampouco solidariedade em vaquinha entre amigos partidários que
dividiam mesas fartas com os melhores vinhos nos tempos de outrora.
Vem aí a FAP
A situação do petista João Paulo Cunha – e também de outros apenados –
pode se tornar menos dramática se ele conseguir um regime semiaberto. A
Fundação de Amparo ao Preso (Funap), subordinada à Secretaria de
Justiça do DF, tem novo diretor. É o advogado Paulo Fernando Melo, que
enumera à Coluna uma série de mudanças pré-aprovadas no âmbito da
Fundação em prol do bem estar dos detentos e de familiares. A começar
pelo nome. Paulo vai propor em projeto de lei à Câmara Distrital que
seja titulada Fundação de Amparo à Pessoa – ‘É mais humano’, diz.
Há no Distrito Federal 14 mil encarcerados nos regimes fechado e
semiaberto – 13 mil são homens. A principal mudança a curto prazo será a
melhoria do sistema de visitas. Hoje, familiares chegam a pernoitar
junto ao muro da penitenciária em fila que alcança quilômetro, para
visitar detentos no dia seguinte (as visitas são às quartas e quintas). A
ideia é distribuir senhas nos postos Na Hora do GDF e em
postos móveis a serem criados, espalhados pela capital e Entorno. ‘Com o
tempo será feito pela internet’, adianta Paulo Fernando.
A Funap sob nova gestão também prepara um pacote de benefícios aos
detentos em regime semiaberto como programas de trabalho voltado aos
presos deficientes físicos, reativação das oficinas internas como as
fábricas de bolas e redes (estão aos cacos, abandonadas pela última
gestão) – ‘Vamos oferecer material esportivo para aproveitamento nos
Jogos Olímpicos’, ensaia o novo diretor. Mulheres poderão fabricar
bijuterias – e algumas delas serão oferecidas como copeiras para cada
gabinete de deputado distrital na Câmara Legislativa. A Funap também
pretende empregar detentos do semiaberto como pedreiros e pintores nas
reformas de escolas que o governador Rollemberg (PSB) pretende tocar.
O maior desafio é aprovar uma lei que ofereça crédito de R$ 1 mil a
detentos que conseguirem na Justiça cumprir pena no regime aberto, para
que possam empreender. Eis aí uma nova chance para João Paulo Cunha, se
conseguir pagar o restante da multa.
Correio do Brasil
Por Leandro Mazzini
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